Valdemir Mota de Menezes
Larvas de moscas são usadas no tratamento de necroses, comendo o tecido morto
Por
Fábio Marton
Atualizado em
29/03/2016
Um grupo de cientistas da americanos e neozelandeses acaba de publicar um estudo
no qual genes humanos foram introduzidos em moscas varejeiras, para que
suas larvas produzam o fator de crescimento PDGF-BB, que incentiva a
recuperação da pele humana.
Varejeiras, para quem não teve o desprazer de ser
apresentado, são aqueles bichinhos metálicos, verdes ou azuis,
incrivelmente insistentes em ocupar ambientes de convívio humano. E, se
elas conseguem o que querem - botar ovos em partes vulneráveis do nosso
corpo -, o resultado pode ser desastroso: as larvas crescem e se
alimentam da pessoa. O nome disso é miíase e pode até matar.
O que cargas d?água querem os cientistas com esses
monstrinhos? Nem todas as varejeiras são criadas iguais. As larvas de
algumas delas, como varejeira verde americana (Lucilia sericata), usada
no estudo, se restringem exclusivamente ao tecido morto. A Lucilia
geralmente ataca cadáveres, mas quando ela bota ovos em (cuidado:
imagens seriamente nojentas) feridas necrosadas em pessoas vivas, suas larvas se limitam a comer o que já está estragado, poupando os médicos de complicadas cirurgias.
Melhor ainda, elas emitem compostos bactericidas, que evitam que a necrose se alastre. Essa é a terapia larval,
que consiste em aplicar ovos de moscas criadas em condições estéreis em
vários tipos de necrose, como escaras cirúrgicas ou gangrena causada
por diabetes, que é o foco do estudo. A ferida então é fechada com gaze e
os bichos se alimentam do tecido morto, até se tornarem pupas
(crisálidas de mosca) e serem removidas ? evitando que moscas saiam
voando do paciente. Parece tétrico, mas não é novidade: desde a
Antiguidade, da experiência de guerras, já se sabia que as moscas certas
eram capazes de curar necrose.
O propósito do estudo foi melhorar ainda mais a terapia
larval, criando supermoscas capazes de não só comer o lixo, como
incentivar o tecido vivo em volta a se recuperar. Uma das duas técnicas
testadas foi capaz de criar larvas que emitem o PDGF-BB. Os testes ainda
não chegaram a humanos, mas são promissores. ?A vasta maioria das
pessoas com diabetes vivem em países com renda média ou baixa, sem
opções caras de tratamento?, afirma o entomologista Max Scott, da
Universidade da Carolina do Norte. ?Vemos isto como o um estudo
primordial para o desenvolvimento futuro de moscas L. sericata
geneticamente modificadas, para produzir uma variedade de fatores de
crescimento e peptídeos antimicrobianos?, continua. ?A longo prazo, o
propósito é desenvolver formas baratas de tratar ferimentos que podem
salvar pessoas de amputações e outros efeitos negativos.?
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